Quem dá o resultado, quanto tempo vai levar para sair o resultado, o que acontece de tão importante no dia 17 de dezembro? E se der empate de verdade? (Sim, isso é possível.)
Chegou o dia, BRASEW!!!!! Mas não será hoje! Não, não será hoje que saberemos quem ganhou as eleições americanas. Não tem urna eletrônica por lá, darling. (Ok, tem em alguns estados, mas não em todo lugar). Como dizia uma manchete que li ontem: Faltam 76 dias para a eleição terminar (considerando o dia da posse do presidente que será eleito). Ok, o resultado sai antes disso, mas pode levar dias, pode levar semanas. Pode ir parar na Justiça.
Mas nesta carta matinal do dia da eleição americana vou te contar coisas curiosas como, por exemplo, quem dá o resultado da eleição (Spoiler: não é o Xandão e tem até a FoxNews envolvida), por que demora para sair o resultado, que horas termina a votação, o que precisamos ficar atentos, o dia exato do fim da votação (fiquem com o dia 17 de dezembro na cabeça) e o que o Trump deve ou pode fazer. Sim, mais uma eleição americana que é sobre Donald Trump.
Sobre a votação
Nem dá para dizer tecnicamente que hoje é o dia da eleição. Na verdade, é o último dia de votação porque desde setembro já tem gente votando. Por lá, eles permitem até voto antecipado pelo Correio (vai vendo a confusão). Até agora quase 80 milhões de americanos já votaram. O recorde de votos antecipados foi em 2020 quando 100 milhões votaram antes do dia da eleição por conta da pandemia.
Nos EUA, o voto não é obrigatório e os entendidos dizem que quanto mais gente ir votar, mais chance Kamala Harris tem de ganhar. As urnas começam a fechar por volta das 17 horas, horário de Washington, e a última urna fechará à meia noite. Mas lá não é como aqui e eles não ficam esperando todas as urnas fecharem para começar a apurar os votos. Em cada estado, assim que termina o horário de votação, eles já mandam ver na apuração. (Maior festa do caqui. Isso é tão cringe que nem eu sei porque as pessoas dizem festa do caqui.)
O que importa
Não vai sair o resultado hoje. Ok. Mas nesta noite já saberemos o quão acirrada de fato está essa disputa. Se quem ganhar vai ganhar por dois votos ou por centenas de milhares de votos. Todas as pesquisas dizem que é empate na cabeça.
Quanto mais empatado estiver, mais demorado será para sabermos quem ganhou. Como eu já contei aqui milhares de vezes, são naqueles sete estados indecisos que precisamos ficar de olho. Os primeiros que devem divulgar resultados são a Geórgia e a Carolina do Norte (é esperado que o resultado deles já saia nesta noite). Eles de cara já vão nos dizer se é mesmo uma disputa acirrada. Mas as urnas nesses dois fecham por volta das 19h. Então não espere nada antes das nove da noite do Brasil, darling.
Se Trump ganhar nesses dois estados, ok, já era esperado. O caminho para a vitória do Trump (sempre de acordo com gente entendida, darling) passa por Pensilvânia, Geórgia e a Carolina do Norte. Já os da Kamala são Pensilvânia, Michigan e Wisconsin. Ou seja, se Kamala vencer na Geórgia e Carolina, Trump começará a ficar nervoso. Os outros dois que estão na lista dos indecisos são Nevada e Arizona. (E ainda surgiu um azarão: Iowa. Contei aqui ontem. E ainda tem o caso de Omaha, contei aqui há meses.)
Notou que a Pensilvânia está nos dois? Então, por isso a gente sempre fala da Pensilvânia aqui. Por isso, Trump e Kamala visitaram mais a Pensilvânia do que qualquer outro estado. Por isso, Trump e Kamala terminaram a campanha na Pensilvânia. E quando a Pensilvânia vai entregar seu resultado? Na melhor das hipóteses, vai entrar noite adentro. Para vocês terem uma ideia, a chamada da Pensilvânia só aconteceu no sábado, nas últimas eleições. Ou seja, o resultado só saiu no sábado.
E o que é essa chamada?
Nos Estados Unidos, não tem um Tribunal Superior Eleitoral ou um Xandão (hoje em dia é a Carmen Lúcia) que anunciam o resultado oficial da eleição. Lá isso fica a cargo das emissoras de televisão ou dos serviços de notícias. Os dois mais respeitados são a AP (Associated Press) e a FoxNews (sim, acreditem).
A AP faz isso há 175 anos. Olha isso, BRASEW. 175 anos. Eles montam uma super estrutura. Neste ano, eles vão chamar 6.823 vencedores (sim, tem resultado para senador, deputados federais e estaduais). São mais de 5 mil pessoas fazendo este trabalho. Obviamente, não são resultados oficiais. Mas quando eles fazem isso, é como se fosse o resultado oficial. A AP tem uma taxa de precisão de resultados de 99,9%. Sim, isso significa que sempre tem o 0,1% de chance de errar.
E quem também faz um trabalho primoroso é a mesa de eleições da FoxNews. Sim, acredite que mesmo uma emissora com viés ideológico pode fazer trabalho técnico. Essa mesa de eleições é comandada por Arnon Mishkin. Esse não se abala, darling. Não quer saber se a emissora é trumpista. Ele trabalha com dados e votos reais.
Em 2020, Mishkin chamou o Arizona antes que todo mundo e a FoxNews apanhou dos seus telespectadores e do Trump por dias. Todo mundo esperava que Trump fosse ganhar no Arizona, mas toda a metodologia do Mishkin (que envolve pesquisas, a contagem de voto real e o conhecimento do processo de cada estado) apontava que Trump não conseguiria mais bater Biden. E de fato não bateu. Mas no fim, Biden ganhou só por 10 mil votos no Arizona. (Imagina a dor de barriga desse Mishkin.)
A FoxNews inclusive teve um papel importante quando anunciou que Biden tinha ganhado, com o resultado final da Pensilvânia (no sábado, como eu disse antes). Foi a última a fazer isso. Mas fez em meio àquele momento em que Trump, lá da Casa Branca, dizia que ele tinha ganhado as eleições.
A FoxNews falou e já está valendo?
Não, darling. Provavelmente o caso deve ir parar na Justiça. Que terá um papel fundamental no processo eleitoral. Mas lembre-se que eles não têm justiça eleitoral por lá.
O Trump
Eis o que Trump deve fazer neste ano também: dizer que ganhou a eleição antes de se ter resultados. Ele mesmo já disse na semana passada que se não sair um resultado até às 23 horas, é porque a eleição está sendo fraudada (sim, darling, ele já está se preparando para fazer confusão e gerar o caos).
Em 2020, ele se autodeclarou vencedor às duas da manhã. E, como sabemos, ele perdeu. E, como sabemos, teve depois o 6 de janeiro.
E por que 6 de janeiro?
A eleição americana não é direta. Leva quem vencer o colégio eleitoral, que são 538 pessoas que de fato votam para decidir quem será o presidente. Hoje, os americanos estão escolhendo essas 538 pessoas, na verdade (sim, eu sei, é confuso). E é por isso que não adianta ter milhões de votos a mais na eleição geral, e perder na Pensilvânia, por exemplo. E o candidato pode perder por um voto, que perde todos os votos daquele estado no Colégio Eleitoral. Por menos populoso que seja, um estado tem direito a pelo menos 3 votos no Colégio Eleitoral. Para ganhar, o candidato precisa ter 270 votos desse colégio.
A grande maioria dos estados tem um sistema em que o candidato que ganha no voto popular, leva todos os votos do Colégio Eleitoral daquele estado (não importa se esses eleitores do colégio eleitoral sejam democratas ou republicanos). E o dia da votação desse colégio eleitoral é apenas dia 17 de dezembro (ahã, believe me!).
Ah, Tixa, mas eles podem se revoltar e não votar no candidato que ganhou o voto popular? Podem!!!!! But provavelmente vão receber uma multa gigantesca da Justiça (isso já aconteceu, inclusive recentemente) e eles serão substituídos.
Os votos que são dados pelos 538 eleitores do Colégio Eleitoral são contados e oficializados no Congresso americano no dia 6 de janeiro. Eis aqui a importância do 6 de janeiro. É quando o resultado é finalmente selado e sacramentado. Seria como a diplomação do vencedor de uma eleição brasileira. Os golpistas do 6 de janeiro queriam impedir que esse resultado fosse selado e sacramentado.
Lá nos Estados Unidos, a posse do novo presidente acontece no dia 20 de janeiro.
O 17 de dezembro
Guarde essa data, darling, porque ela pode se tornar o novo 6 de janeiro, caso Trump perca as eleições. Como temos contado aqui, Trump desde já está preparando terreno para contestar o resultado (o que ele tem a perder? Afinal, ele foi condenado por crimes e só vai receber a sentença depois da eleição).
Grupos organizados já espalham notícias de que tem fraude na eleição. Até o Elon Musk tem se prestado a esse papel, na sua campanha sem precedentes para o Trump.
Uma das formas de tumultuar o processo eleitoral é impedindo que essas fases que costumavam ser burocráticas (17 de dezembro, 6 de janeiro) sigam o seu curso.
E eu li ontem na NBC que muitos estados estão preocupados com a segurança da votação do dia 17 de dezembro. Os eleitores do Colégio Eleitoral votam para presidente nos Capitólios de cada estado (nas assembleias legislativas). O pessoal já reforçou todos os esquemas de segurança do Congresso americano para o 6 de janeiro. Mas como será isso nos estados, no 17 de dezembro?
Uma última coisa (me senti o Steve Jobs)
Reparou que 538 é um número par? Sim, isso significa que a depender da combinação dos estados que Trump e Kamala conseguirem vencer é possível sim que a eleição termine exatamente empatada. 269 a 269. Se isso acontecer, quem decide a eleição americana é o Congresso. O Senado escolhe o vice-presidente e a Câmara o presidente. Tô te dizendo que só acaba quando termina.
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De olhos nas pesquisas
JÁ É EMPATE NA AUSTRÁLIA. Aqui nesse cantinho a gente mostra um agregado de pesquisas que reflete qual a média para um candidato e outro. Escolhemos duas delas. Pela média calculada pelo RealClearPolitics, Kamala está 0,1 ponto à frente de Trump. Há uma semana Trump tinha passado Kamala, mas agora a Kamala voltou para a liderança. Mas vamos combinar que liderança de 0,1 não é liderança, né, darling? É empate mesmo. Já na média do New York Times, com base no projeto FiveThirtyEight da ABC, Kamala permanece 1 ponto à frente de Trump.
Por que os agregados dão resultados diferentes? Um dos motivos é que o RealClearPolitics pega um número maior de pesquisas para analisar, o que acaba agregando pesquisas com menor qualidade técnica também. De qualquer forma, a tendência dos dois agregadores sempre foi a mesma. E a tendência de agora é a da Kamala perdendo espaço.
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